Leptospirose Canina.Como salvar seu cão desta doença.

A leptospirose canina  é uma doença infecto-contagiosa causada por bactéria patogênica do gênero leptospira que afeta os cães atingindo órgãos importantes como os rins e o fígado, podendo levar o animal a óbito em poucos dias se não tratado rapidamente.
Considerada uma zoonose (doença que pode ser transmitida pelos animais para os humanos), é transmitida através da urina dos animais contaminados.

Em recente pesquisa feita pelo Ministério da Saúde foi constatado que a maioria das pessoas desconhecem que o cão pode transmitir leptospirose e associam a doença somente ao rato, principal hospedeiro e transmissor. Este fato é preocupante, porque hoje os cães são considerados a segunda principal fonte de infecção para o homem, ficando somente atrás dos ratos ( Brod et al. 2005). Sendo assim vamos entender como ocorre a leptospirose canina, quais os sintomas e o que você pode fazer para proteger seu peludinho.

Leptospirose Canina Que doença é esta.

Os cães podem ser infectados por diversos tipos de sorovares (diferentes variedades de uma espécie de bactéria) que podem ou não causar a doença. Segundo Knöpfler et al. 2017, já foram identificados mais de 250 sorovares de leptospirose em todo o mundo. Por causa desta diversidade um cão pode ter leptospirose mais de uma vez.

Os principais agentes causadores da leptospirose canina são da espécie L interrogans os sorovares canicola e icterohaemorrhagiae.

Aqui está ela a grande causadora da leptospirose canina

Conforme o sorovar que infecta os cães a doença assume um quadro agudo ou crônico diferentes sintomas são notados.
O sorovar icterohaemorrhagiae é o causador do quadro agudo da doença considerado o mais grave e muitas vezes fatal, levando o animal a óbito em 48 a 72 horas. O sorovar canicola é o responsável por um quadro crônico de evolução mais lenta o animal muitas vezes não apresenta sintomas da infecção, mas está constantemente eliminando a bactéria pela urina.

Pele e Mucosas a Porta de Entrada da Leptospirose

 A penetração da leptospira no organismo ocorre através das mucosas (oral, ocular, digestiva, respiratória e genital), pela pele ferida e até mesmo através da pele íntegra quando o cachorro fica por um longo tempo andando ou submerso em água contaminada.
Após penetrar no organismo do cão, a bactéria se multiplica de forma rápida no sangue, e os primeiros órgãos a serem atingidos são o fígado e os rins, e isto ocorre em um período de quatro a doze dias após a infecção. O baço, os olhos, os  genitais e o sistema nervoso central também são alcançados pela leptospira.
Na foto abaixo você vê uma tipica cena de dias chuvosos nas grandes cidades. O mecânico Adilson Ferreira de Pádua, morador de Itabirito (MG), uma das cidades atingida por fortes chuvas no último verão, se arrisca nas águas para salvar um cachorrinho que desesperado tentava nadar contra a correnteza.

Admiro muito pessoas assim que sabem dar o devido valor a vida de um animal. A foto é de emocionar, não acha? O Sr Adilson realmente é um homem de coragem, pois arriscou a própria vida ao entrar nesta água que com certeza esta repleta de bactérias causadoras da leptospirose.

Caso você more em um local que sofre as consequências de uma enchente e tenha passado por uma situação semelhante a do Sr Adilson, procure um médico rapidamente e leve seu cachorro urgente ao veterinário, pois o risco de contrair leptospirose é muito grande.
De acordo com o Ministério da Saúde no período entre 2000 e agosto de 2016 foram registrados 62.153 casos de leptospirose humana, sendo que destes, 5.948 evoluíram para o óbito (Brasil 2016)

Época de Chuva aumentam os casos de leptospirose canina.

Com a chegada do calor e as fortes chuvas a leptospira encontra o meio ideal para sobreviver. Esta bactéria adora ambientes úmidos, sem sol e se adapta muito bem ao calor. As águas da chuva facilitam muito a disseminação da doença entre os cães.Porque ao encherem os bueiros trazem para a superfície toda a urina dos ratos contaminada pela leptospira.

E por falar em chuva adivinha qual é a cidade do Brasil com maior número de casos de leptospirose? Acertou, a cidade de São Paulo, a terra da garoa. Que além de ser a campeã em chuvas leva o amargo titulo de ser a cidade brasileira com o maior número de ratos.

Fique comigo e veja logo abaixo:

Cães e ratos convivência perigosa

Segundo a especialista em pragas, Randy Baldresca, em entrevista para a Vix, há hoje somente na cidade de São Paulo 10 a 15 ratos por habitante, ou seja, pelo menos 120 milhões de ratos dentro dos esgotos da cidade. Inacreditável! É rato demais!! Com esta quantidade de ratos dá pra entender o risco que os cães correm de contrair leptospirose.

Estes pequenos roedores não medem esforços para entrar nas casas quando sentem o cheiro dos alimentos, restos de comidas, restos de rações dos animais domésticos e até mesmo pelo cheiro das fezes dos animais. Os ratos ao contrario do que muitas pessoas pensam não comem alimentos estragados e quando encontram algo saboroso guardam na memória o local que encontraram o alimento e voltam para buscar mais. Para impedir que seu cão encontre um destes temíveis pequeninos roedores no seu quintal, mantenha a lata de lixo sempre tampada, não deixe a ração exposta, mantenha o pote de ração fechado e troque a água de beber do seu peludinho várias vezes ao dia. A palavra de ordem contra a leptospirose canina é limpeza.

Veja agora quais os principais sintomas da leptospirose canina

Sintomas da Leptospirose Canina

Na foto acima você vê um cão com a mucosa oral amarelada, sinal tipico da leptospirose demonstrando que boa parte do figado foi lesionada. Porem nem todos os cães contaminados manifestam este sinal.
A severidade dos sinais clínicos varia de acordo com o estado de vacinação do cão, idade, virulência do sorovar, grau de exposição à doença e resposta imune do animal (McDONOUGH, 2001)

São sintomas comuns da leptospirose canina

-febre

– cansaço

– perda de apetite

-vômito e diarreia (algumas vezes com a presença de sangue)

– dor ao urinar

-urina escura ( devido a presença de sangue na urina)

– mau hálito ( halito com cheiro de urina)

– úlceras na boca e na língua( alguns casos necrose na língua)

Fique atento a estes sinais. A identificação da doença logo no começo facilita muito a recuperação do animal.

Como Prevenir a Leptospirose Canina

 Todo cuidado é pouco em se tratando da leptospirose, por mais que você faça a sua parte mantendo o ambiente que seu cão vive sempre limpo os ratos estão em grande quantidade pela cidade e talvez seus vizinhos não se preocupem tanto quanto você em manter a casa limpa. Sendo assim existe a possibilidade de um belo dia seu peludinho encontrar no meio do quintal um ratinho passeando. Para acabar de uma vez por todas com a chance deste encontro deixar seu cão doente com leptospirose canina. O melhor a fazer é tomar mais uma medida de proteção que é a vacinação.

Vacinação

Com a vacina o animal desenvolve uma proteção segura. A vacinação produz um verdadeiro exercito de células de defesa, os anticorpos, que ficam a postos prontos para defender o organismo do seu cãozinho se um dia ele entrar em contato com a urina contaminada do rato.

No entanto a vacina contra leptospirose não confere uma proteção prolongada. Protege os cães por apenas 6 meses a um ano, em média, e requer reforços freqüentes (WOLF, 2010). Esta proteção de curta duração exige que o reforço seja feito pelo menos um mês antes da época de chuvas e calor que como vimos anteriormente é a época do ano em que os cães correm o maior risco de contraírem leptospirose.
A vacina contra leptospirose pode ser aplicada separadamente das demais vacinas.

Se você mora em uma área endêmica, que há casos frequentes de leptospirose canina o ideal é refazer a vacinação a cada 6 meses. Procure um médico veterinário de confiança e informe-se sobre qual o melhor esquema de vacinação para o seu cão.

Vacina V8 e V10 qual é a melhor?

A vacina contra leptospirose canina também está presente na vacina múltipla ( V8 e V10) e para estar bem protegido o cão precisa receber duas doses desta vacina com intervalo de 21-30 dias para que o organismo consiga produzir os anticorpos necessários para uma proteção efetiva.
A vacina V8 é uma vacina múltipla que protege os cães contra cinomose , parvovirose, hepatite infecciosa, doenças respiratórias ( adenovirus tipo 2) parainfluenza, coronavirose, parvovirose e leptospirose( L. canicola e L. icterohaemorrhagiae )

A vacina V10 protege contra as mesma doença e
contém duas leptospiras a mais L. grippotyphosa e L. pomona. Estas leptospiras acometem mais animais silvestres e ocorre pouco no Brasil.
Como as vacinas contra a leptospirose são as que mais causam reações em função da presença de adjuvantes, substâncias que “irritam” o sistema imunológico para potencializar a produção de anticorpos. Muito se discute sobre o uso da vacina V10 para proteção da leptospirose canina, pois não é necessário que o animal receba a aplicação de mais duas leptospira se os riscos de se infectar com elas é muito pequeno. Converse com o veterinário que cuida do seu cãozinho a respeito das implicações do uso da V10. Eu opto pelo uso da vacina V8 no meu esquema de vacinação e tenho obtido bons resultados.

Tratamento

Uma boa noticia é que a leptospirose canina tem tratamento. O tratamento consiste em uma associação de antibióticos (ampicilina e estreptomicina) durante duas semanas e posteriormente doxiciclina por mais duas semanas. Em conjunto devem ser tratados os demais sintomas que o animal apresentar. Os sintomas variam de um animal para outro. Manter o animal bem hidratado também é uma preocupação.

Ao cuidar de um cão com leptospirose tome muito cuidado. Use luvas para proteger as mãos e quando for lavar o quintal ou qualquer outra área que o animal tenha urinado proteja seus pés com botas de plástico. Lembre-se que ele precisa dos seus cuidados para sarar. Então cuide-se para também não pegar leptospirose.

Leptospirose Canina um Caso de Saúde Pública

Não se sinta só neste combate, a leptospirose é um caso de saúde pública, pois a urina do rato pode contaminar tanto você quanto seu peludinho. Faz-se necessário medidas por parte dos governantes para manter a cidade limpa impedindo que situações como esta da cachorrinha na foto se repitam com tanta frequência. Caso você encontre ratos na sua casa entre em contato com o Centro de Controle de Zoonoses da sua cidade, eles possuem um setor voltado só para controle de roedores e estão capacitados para tomar as medidas necessárias no seu bairro. Combater ratos apenas com venenos comprados em casas agropecuárias como é o caso do chumbinho que é até vendido ilegalmente não resolve o problema. Estes raticidas não matam a colonia de ratos, mas sim apenas aquele ratinho que estava passeando na sua casa. Sinto informar que logo outros virão e seu cão continuara exposto a leptospirose. Sem falar no risco do seu cachorro comer o veneno e vir a óbito. Faça a sua parte e cobre o trabalho conjunto dos governantes da sua cidade.

Os casos de leptospirose em cães devem ser notificados às autoridades sanitárias (vigilância sanitária) pelo seu potencial de transmissão ao homem.

A melhoria das ações de controle voltadas aos animais refletirá na diminuição do nível de contaminação ambiental e, conseqüentemente, na redução do número de casos humanos da doença.

Espero que o artigo tenha te ajudado a esclarecer os perigos desta doença. Se você gostou COMPARTILHE com um amigo seu esta informação pode salvar uma vida.

Um abração.Te vejo no próximo post.

Dra. Vania de Paula, médica veterinária especializada em clinica de pequenos animais.

Veja também: Leptospirose em cães. Riscos e Prevenção